Eu me confesso, por vezes bruta, por vezes doce como mel, por vezes malcriada, por vezes de uma humildade peréne, por vezes de modos grosseiros, por outras delicada como uma flor, nem sempre os princípios justificam os fins ...a quem a vida ensinou a resignar-se, e que aquilo a que os outros chamam uma derrota por vezes, não o é, é apenas uma mudança estratégia.
sexta-feira, setembro 16, 2005
Uma nova fase: a autonomia conquistada!
No ano seguinte, de novo na 4ª classe. Apesar de ter estado 3 meses internada no hospital, de Fevereiro a Abril, e ter estado doente praticamente todo o ano, fiz o exame da 4ª classe. Passei com distinção, fui a melhor aluna da escola onde fiz o meu exame, que foi realizado por alunos de 10 freguesias de Braga. Recordo-me tão bem da prova oral! A prova incidiu sobre o rei D. Dinis e também sobre os caminhos de ferro, temas escolhidos por mim. Quando os escolhi, em particular o D. Dinis, lembro-me da troca de olhares entre as professoras, e de me terem inquirido sobre a razão da escolha. Da resposta também me recordo: sempre achei que sobre D. Dinis havia muito para contar e gostava muito de tudo o que com ele se relacionava.
No início desse ano lectivo, alguns colegas começaram a ter explicações com a professora para seguir os estudos, pois tinha de se fazer o exame de admissão ao liceu. Não fiz o pedido para ter essa preparação. Por não o ter feito, a professora perguntou-me se eu não iria continuar a estudar. Tive de lhe dizer que não sabia, uma vez que o meu pai não tinha dito nada. A professora chamou o meu pai à escola, para lhe dizer que achava que eu era uma criança muito inteligente, a quem não se deveria cortar as asas, pelo que a melhor decisão deveria ser a do prosseguimento dos estudos. A resposta do meu pai foi a esperada, infelizmente tão frequente, para tanta gente, à altura: "tenho muitos filhos, e para ela ir estudar teria de os deixar ir a todos. Ela tem os irmãos para tomar conta, é isso que vai fazer!".
Para mim a desilusão, mais uma (!), foi enorme! Mas a professora, apesar da decisão anunciada do meu pai, deu-me as explicações à mesma. Infelizmente, acabado o ano, o pré-anúncio confirmou-se: o meu pai não deixou que me matriculasse no liceu. Recordo-me da frustração e revolta que senti, mas fiz uma promessa a mim própria - voltaria a estudar quando atingisse a maioridade. Promessa que viria a cumprir!
Esta situação, associada à debilidade física já descrita, pode ter sido a causa de alguns problemas de saúde que até hoje persistem, e de que nenhum dos vários médicos consultados descobriu a causa. Um dos mais desagradáveis é o que acontece em momentos de grande stress: perco a visão por momentos, quando a recupero tenho amnésia (que acaba por ser passageira), e subsistem umas dores de cabeça fortíssimas, que ficam o resto do dia.
Aos meus 14 anos morreu a minha amada Avózinha, a minha estrela, a minha protectora. Partiu, vítima de um ataque cardíaco. Depois disso senti-me muito sózinha no mundo. Ainda hoje sinto muito falta dela, ainda a chamo em momentos de dificuldade e desespero! Esta morte gerou em mim uma mudança completa! Passei a contar apenas comigo, passei a arranjar um espaço na minha mente só meu, onde ninguém entrava. Apesar de ouvir o que me diziam e estar atenta aos conselhos dados e cumprir sempre os meus deveres, as decisões sobre a minha vida pessoal passei a tomá-las eu. Até hoje permaneço assim, sou eu quem decide sobre a minha vida, não admito interferências venham de onde vierem. Posso ouvir o que têm para me dizer, e posso até aceitar as opiniões e conselhos, mas só depois de tudo filtrado e ajustado áquilo que penso que é o melhor. Às vezes, até exagero e acabo a não fazer o que é mais correcto, só para me assegurar a mim própria de que não são os outros que decidem a minha vida!