quarta-feira, setembro 07, 2005

O internamento hospitalar e a maldade de uma professora


A minha passagem pelo piano

Nessa altura achava que a minha mãe e irmãos não gostavam de mim,era essa a mensagem que me passavam as tias, essa é uma ideia que toda a vida me tem perseguido. Talvez esteja errada, talvez tenha sido eu quem sempre se afastou deles, e os rejeitei. Quando estava com a minha avó, eu era o centro das atenções. Em casa dos meus pais deixei de ser. Eramos muitos, e eu era das mais velhas.

Aos 10 anos comecei a definhar. Aos 11 fiquei muito doente, e com 12 fui internada no hospital. Estive internada mais ou menos 3 meses. Deixei de comer por completo, não conseguia andar e para me fazer a cama tinham de me pegar ao colo. Passei dias dos quais de nada me lembro. Como que por milagre, numa visita da minha avó, ela levou-me uma peça de coelho, e não é que eu comi?!

Com 12 anos pesava 22 kilos. Todos pensavam que eu ia morrer. Chegaram a tirar a minha mãe em braços do meu quarto do hospital. Tinha dificuldade em abrir os olhos, em virar a cabeça. Só dormia e ouvia, às vezes, as conversas em meu redor. Adormecia de repente, acordava por breves minutos.
Finalmente acabaram por me detectar um tumor que, depois de analisado, se concluiu que era benigno. Removeram-no, comecei a melhorar, e pude abandonar o hospital. Chegada a casa, comecei a aceitar um pouco tudo e todos com mais normalidade. Acho que foi preciso ter estado doente para sentir carinho.

Na quarta classe não passei de ano, não por não ser boa aluna, mas porque a professora era muito má, batia muito em todos. Não me posso queixar muito da "porrada", porque não me tocou lá muito mas, na mesma sala, um dos meus irmãos, que andava na segunda classe ( as salas tinham sempre 2 anos escolares) "levava" bastante. Isso fazia com que eu chorasse muito e que batesse também nas outras raparigas. Fazia coisas terríveis: dava-lhes grandes estaladas, arrancava-lhe os brincos ao puxão, furava-lhes a orelha com as unhas. Eu era terrível, um pavor!

O meu irmão andava sempre com um casacão vestido, que nunca tirava, mesmo às refeições. Um dia, o meu pai zangado, não sei porquê, obrigou-o a tirar o casaco. Quando o tirou, o meu pai reparou ele tinha os braços e costas todas pretas. Primeiro o meu pai pensou que era o meu irmão que precisva de tomar banho. Levou-o ao lavatório e obrigou-o a lavar-se. No entanto, as marcas não saiam. Num grande pranto o meu irmão contou ao meu pai que era a professora que lhe batia. O meu pai perguntou-me e eu confirmei. Perguntou também se eu também tinha o mesmo tratamento, ao que respondi negativamente.
O meu pai foi conversar com os pais de outras crianças e resolveram ir à escola, reclamar com a professora, por bater tanto nas crianças. O resultado foi a professora ter mandado todos aqueles cujos pais tinham participado na "reclamação" para as filas traseiras, e nunca mais ter querido saber de nós. Não corrigia os trabalhos, abandonou-nos por completo. Isto aconteceu por volta de Novembro.
Ir às aulas passou a ser o mesmo que não ir. Nos dias de sol, mesmo de muito sol, a professora passou a deixar aberta a persiana que impedia o sol de dar nas últimas filas. Dizia que o sol nos fazia muito bem. Se algum de nós, antes de ela entrar, a baixasse, ela subia-a de novo, e dizia-nos que, se quisessemos sombra, poderíamos bem esperar pelo fim da aula. Era terrível estar nessas aulas.

Com todo este cenário, acabei por perder o ano. Não foi por não saber, como podem depreender desta narrativa, mas por pura maldade da professora.