segunda-feira, outubro 31, 2005

Primeira paixão e primeiras desilusões


Os meus 16 anos

Aqui estou de novo para contar mais um pouquinho de mim, com algum atraso, de que peço desculpa.

Apesar dos contratempos que já fui descrevendo, sempre tive uma forte auto-estima. Isso levou a que me achasse interessante(!) e que no dia que eu quisesse um rapaz nem pela cabeça me passava a hipótese de ser rejeitada. Coisas de rapariga...
Comecei a olhar um dos rapazes de uma forma diferente da que via os outros, todas as vezes que ele lá ia a casa,eu tentava dar um ar mais sedutor a mim própria ia visitar as pinturas da minha mãe e lá clocava um pouco de póde arroz na cara.

Um dia houve um lanche na casa dos meus pais. Estavam lá muitas pessoas, os amigos dos meus pais, os filhos desses amigos. Depois de umas horas bem passadas em jogos e outras diversões para a nossa idade, a Mãe chamou para irmos lanchar. Quando estávamos à volta da mesa, o tal rapaz "estrela dos meus olhos" estava um pouco afastado, parecia que preferia conversar em vez de comer. Eu, menininha educada e cheia de atenções, preparei um pratinho com algumas das iguarias da mesa e fui entragar-lho... Ai que ainda hoje sinto a dor!!! Não é que ele pegou no que eu lhe dei e foi entregar o prato à minha irmã, todo cheio de ternura!? Eu vi no olho dele que ele gostava da minha irmã… Que desilusão! Fiquei "louca" de raiva e ciúmes…Sou e desde criança de decisões muitos rápidas e repentinas. Se o pensei de imediato o fiz: abeirei-me da minha irmã, tirei-lhe, o prato com uns olhos devoradores, coloquei-o na mesa e fugi para a cama.


Foi a minha primeira e grande desilusão. Fiquei na cama a chorar. Quando os meus amigos quiseram saber de mim e me localizaram na cama, muito rapidamente me desculpei com a milagrosa desculpa da "dôr de barriga". Dôr de cotovelo é que era!
Durante um tempo andei muito desgostosa e desiludida!


Nessa altura andava a dar uma radionovela, famosa, chamada "Simplesmente Maria". Ai como eu chorava a ouvir os episódios! Como recordo tudo! Havia o parvo do namorado da dita, que lhe fez um filho e não a quis! Era dose para uma rapariga cheia de sonhos. Como vibrava eu com o sucesso da Maria.. Essa novela marcou bastante uma fase da minha vida. Até a minha maneira de olhar os rapazes mudou a partir daí. Estava para mim a "Simplesmente Maria" como está para os jovens de agora a novela "Morangos com Açúcar".

sábado, outubro 15, 2005

Os meus negócios


Depois de termos o nosso clube do livro, que funcionava no celeiro da quinta dos meus pais, este começou a ser muito frequentado quer por amigos nossos quer pelos amigos da minha irmã, o que não achei muito justo. Eles tiravam-nos um pouco a privacidade e liam os livros que eram nossos, e entre todas estabelecemos que quem queria entrar tinha de pagar um bilhete que ficou a ser de 12,5 cêntimos. Alguns não voltaram lá, os "colas", mas muitos continuaram.

Depois fizemos alargar o negócio e vendíamos também castanhas assadas e tremoços. Era uma beleza: chegávamos a fazer por domingo 20 escudos e engrossavamos a assim a nossa biblioteca pois compravamos muito mais livros desde banda desenhada a romances. Tínhamos também revistas de Corin Tellado, Caprichos e a crónica Feminina.

Os meus irmãos foram cúscar ao meu pai que eu os obrigava a pagar e resultou daí uma tremenda confusão lá em casa pois aquilo não era só meu. Bem, mas o meu pai decidiu que isso ficava à minha conta, eu era quem sabia pois a ideia era minha e não deles. Ele convidou-os a seguir o mesmo rumo que eu, que inventassem alguma coisa, mas aquelas pestinhas não me davam sossego. Os mais pequenos, principalmente, ora jogavam à bola lá dentro e deitavam coisas ao chão, ora pregavam partidas aos meus amigos, que consistiam no seguinte: quando algum se levantava e voltava a sentar de novo, no momento do sentar tiravam o banco e aquilo era” malho” certo. Eram terríveis eu bem que tentava impor respeito, mas eram tantos, uns 5. Quem segura cinco crianças endiabradas?

Sempre fui super curiosa, e sempre detestei que não me deixassem ver e remexer em tudo. Ainda hoje sou assim e quem me proibir algo, sinto logo um calafrio e tenho de ultrapassar as regras, contrariando e obedecendo ao meu instinto, nem que me cause dissabores. Essa de menina obediente, que cumpre que faz tudo o que lhe mandam não esteve nunca nem está comigo. Assumo que sou rebelde.
Um dia a minha mãe comprou um pente de cabelo de senhora com um cabo atrás, e esteve com a irmã dela, minha tia, e com a minha irmã mais velha a fazer penteados. Teria eu 14 ou 15 anos . Eu disse: "Mãezinha mostre-me o pente" e ela respondeu: " Não, que o podes partir". Guardou-o e saiu. Pois, e tinha de ser logo comigo, isso. Fui procurar o bendito pente e logo por desgraça minha, mal o coloquei no cabelo para me pentear, não é que o raio do pente parte o cabo e fica em duas partes, pente para um lado e cabo para o outro! Mas pensam que me deixei apanhar tipo “morcona”? Na . Fui à cozinha e no fogão arranjei maneira de colar o pente. Fiz o trabalho tão bem feito que no outro dia a minha mãe foi para usar o pente e ele ficou logo com uma parte para cada lado, mas felizmente não desconfiou de mim. Ficou só zangada com a má qualidade do material. Ufa da que me safei! Era capaz de me dar umas palmaditas, ai acho bem que sim. Mas sabem que ela ainda hoje não sabe desta... e de muitas outras.

terça-feira, outubro 04, 2005

Eu e as minhas amigas



Casamento da irmã da minha mãe

Uns tempos depois da minha comunhão solene tivemos uma reunião na igreja com o padre da paróquia, nós os que tínhamos feito esse acto de fé. Primeiro foi para nos agradecer a forma como nos comportamos, outra foi para que recordássemos para toda a vida o que ali tínhamos prometido. A certa altura lá para o fim da reunião o padre perguntou: "Algum de vocês quer seguir a carreira da igreja? (meninos para padres e raparigas para freiras)". Dois rapazes foram para o seminário e eu levantei-me e disse: “Senhor Abade eu quero ir para freira”. Ficou contente o padre, pois eu era, e ainda sou, bastante dedicada ás coisas de Deus. Pronto, o padre tomou nota e no domingo a seguir falou isso na missa. Mas o que aconteceu foi que o meu pai não me deixou ir mais à catequese: na opinião dele era desonroso uma filha sua seguir a vida de freira. Foi pena pois teria sido uma boa “freira”.

Com uma certa mágua minha, eu era a mais franzina de todos os meus irmãos. Era magricela, ao contrário da minha irmã, que era linda. Uma rapariga morena com tudo em pleno desenvolvimento tinha a atenção dos rapazes, não que isso me importasse, mas não me sentia confortável com essa situação, nessa altura com os meus 14 anos, os rapazes chamavam-me "pele e osso" e não me ligavam grande importância.

Era muito popular e com grande facilidade de fazer amizades e ainda hoje assim sou. Sempre tive um feitio impulsivo, justa e honesta mas senhora do meu nariz, eu era sempre quem liderava o grupo de amigas que me seguiam por todo o lado. Tinhamos montes de projectos, e que "projectos". O que me dava mais prazer e adorava fazer era espionagem aos pares de namorados. Não era para ver o que faziam até porque começavamos a fazer barulho mal os avistavamos. A nossa intenção era descobri-los e começar a fazer javardíce por perto deles até os fazer ir embora. De quando em vez, e sem que eu tivesse prazer nisso, encontrava a minha irmã. Claro que contava à minha mãe e o resultado disso era levar umas estaladas da minha irmã. Claro que eu também dava mas ela dava mais. Eu era realmente uma pestinha. Acho que ainda sou, mas essa de os meus não se portarem bem não dava nem dá comigo. Outro dos nossos passa tempos favorito eram as caminhadas. Chegávamos a fazer 20 km por tarde umas vezes por campos e vales outras por Montanhas e era por esses lados que encontrávamos os namorados.

Como tinha muitas amigas e estavam onde eu estivesse, fora das horas das aulas delas, porque elas tinham continuado os estudos.
Um dia em grupo decidimos que tínhamos de mandar embora uma delas porque nos causava muitos problemas de cúsquice e se o pensamos logo o fizemos. Ela não aceitou a bem a nossa decisão e então fomos levá-la a casa porque não fosse ela espiar-nos. No dia seguinte quando eu andava a regar o jardim ela chamou-me e eu fui ter com ela. Era para me pedir para a deixar andar no grupo mesmo desagradando ás outras-eu não podia fazer isso- ela vai ao bolso, tira uma caixa e entrega-me. Eram uns brincos em ouro e fugiu de seguida. Eu fiquei assustada e fui entregar os brincos ao meu pai que por sua vez os foi levar à mãe dela, a qual confessou ao meu pai que não conhecia aqueles brincos ”mas que ficavam lá”. Eu não contei ás outras a conselho do meu pai.

Eu tinha as minhas tarefas diárias mas fazia uso da mão-de-obra ao meu alcance, e quando o pessoal chegava à minha casa, todas me ajudavam e assim eu concluía o trabalho primeiro que os meus irmãos. Acho que nessa altura até me tornei um pouco preguiçosa o que desagradava aos meus pais que passaram a marcar dias para os meus convívios, de preferência quando eu não tinha nada para fazer, ou então negociávamos eu e os meus irmãos que elas só entravam em casa na condição de ajudar a todos, e assim acontecia.

Com 14 anos, por vésperas da Páscoa, a minha mãe comprava-nos sempre roupas e sapatos novos, eu inquiri a minha mãe no sentido de que eu só aceitava a roupa escolhida por mim. Tinha que ser uma saia travadinha e uns sapatos de salto alto que ao andar faziam um bater tipo “tric tric”. Ela deu-mos mas fez questão de me dizer "Vai te ficar mal pois vais parecer um pau de virar tripas". Quero lá saber- pensei eu - mas estou na moda. Adorei os tais sapatos só que a quase não os conseguia calçar pois não conseguia correr com eles sem dar uma queda.

Eu e as minhas amigas tínhamos um "clube do livro". Um dos primeiros livros que li foi a "Vida de Sofia". Começamos todas por comprar um livro que depois fazíamos rodar entre nós. Todas as semanas deitávamos dinheiro numa caixa e ao fim de um tempo uma delas encarregava-se da compra do livro. Juntamos assim dúzias de livros que era a nossa diversão de Inverno.