sexta-feira, dezembro 23, 2005

Uma canção de natal que a minha sobrinha aprendeu no colégio.


Logo que nasceu
Logo que nasceu
Jesus acampou
E à luz das estrelas
Uma voz soou ( sussurrou )
Uaaa... Uaaa...
Maria a Senhora
Logo o embalou ( aconchegou )
E à luz das estrelas
Uma voz soou ( sussurrou )
Uaaa... Uaaa...
Logo que nasceu
Jesus acampou
E à luz das estrelas
Uma voz sussurrou
Uaaa... Uaaa... Uaaa.

segunda-feira, dezembro 05, 2005

Os meus namoros



Olá aqui estou eu novamente para falar mais um pouco sobre mim.
Hoje vou falar sobre os meus namoros, não estão a pensar que eu uma marmanja de 16 anos nunca tinha namorado! Nah, namorei sim…
Pois, tive o meu primeiro namorado tinha eu uns 14 para 15 anos. Ele era o rapaz mais giro da minha rua, pensava eu (e mais umas quantas!!!). Começou o meu coração a bater mais forte que o costume, quando passava por ele. Um dia mandou-me um bilhete por um dos meus irmãos mais novos, a dizer que queria namorar comigo. Foi algo que me pôs corada o dia todo. De cada vez que pegava no bilhete, o meu coração parava.
Dizia então o bilhete: "gostava de namorar contigo pois que és uma miúda fixe, se quiseres aceitar este meu pedido, anda logo à noite à mercearia e eu vou ter contigo". Fiquei a ponto de explodir. Pensei não ir à rua nos 15 dias seguintes, embora gostasse dele, mas aquilo era para mim muito confuso. Achava que morria de vergonha se ele se aproximasse de mim e, por isso, ficou logo decidido não ir à mercearia.

O meu pai, no entanto, havia de me trocar as voltas, porque me mandou buscar um maço de cigarros, coisa que a minha mãe logo aproveitou para me mandar comprar mais umas coisas. Se à ordem da minha mãe ainda podia dizer que não queria ir, a ordem do meu pai era nem pestanejar se podia, era ir e pronto. Assim, lá fui eu, ainda cedo, esperando que, por sorte, ele não estivesse à minha espera. Quando vi que não estava, fiquei muito aliviada e comprei o que tinha de comprar, desatando a correr em direcção a casa, de seguida. Quando já estava a fazer a curva para chegar a casa, ouvi alguém chamar-me e dizer "Espera aí!". Cristo, fiquei aterrada! Era ele! Aproximou-se de mim e disse-me que estava à minha espera desde o meio da tarde. A consequência foi evidente: fiquei num estado de vergonha tão grande que não consegui articular uma palavra. Ele, gentilmente, pegou no saco das compras e acompanhou-me até perto de casa. Quando estavamos já próximo acabei por lhe dizer para não me acompanhar mais, porque o meu pai podia estar à minha espera. Ele concordou e pediu-me para voltar á mercearia no dia seguinte. Com a cabeça, assenti.

Entrei em casa de tal maneira transtornada que era impossível não notarem que alguma coisa se tinha passado. Sentia o que se tinha passado como uma vergonha,um peso na consciência, como se tivesse cometido um grande pecado. Não consegui comer nada ao jantar, tal era o meu estado! No entanto, no meio de tantos irmãos, os meus pais acabaram por não notar nada. Fui para a cama sonhar com o que se tinha passado. Não consegui dormir, tal era o meu estado de ansiedade. "O que vou fazer?", pensava eu, "já namoro e vou ter de me casar!". Meu Deus, que confusão ia na minha cabeça! Hoje quando penso nisso é impossível não sorrir, mas que foi terrível, isso foi mesmo.

Depois dos primeiros encontros a coisa começou a melhorar. Ele era um rapaz bem maneiro, ia para a minha casa, andava nos campos dos meus pais aos pássaros, ora com fisga, ora com uma pressão de ar. Comecei a habituar-me a vê-lo por lá.
Eu sou, e sempre fui, uma pessoa de paixões intensas, mas sempre fui muito cuidadosa com a minha reputação e, por isso, enquanto ele andasse lá pelos campos dos meus pais, eu não saia de casa. Um dia, numa das minhas saídas para ir à mercearia, ele acompanhou-me como de costume e quando nos abeiramos de casa, disse: "Já namoramos há 2 meses e ainda não te dei um beijo, vou dar-to agora!". Aproximou-se e deu-me um beijo na face, seguido de outro. Que beijos mais complicados(!), pensei eu, pois cravava os lábios sobre as minhas bochechas e demorava muito a completar o beijo, nunca ninguém me tinha dado um beijo assim.
Quando consegui soltar-me das mãos dele desatei a fugir para casa. "Ora,meu Deus o que fui eu fazer? Deixar aquele rapaz dar-me beijos, o que ia ser de mim? Ia ter de casar com ele, estava perdida!". Lembrava-me de ouvir as empregadas dos meus pais dizer "Antes deles nos apanharem até as pedras da rua si riem para nós, depois é só dor e desgosto, nada mais tem brilho.". Ora pois, e eu que ainda nem sequer tinha tido as pedrasa rirem-se para mim, como tinha sido capaz de deixar que me desse os tais beijos, como tinha sido possível ter deixado aquilo ter acontecido! E eu que nem tinha gostado dos beijos! Foi muito complicado para mim, fiquei com a amarga sensação de que já não era uma rapariga livre, que tinha de casar com ele.

Confesso que não gostei e que me senti muito mal. A partir daí, o meu irmão mais velho, que deve ter visto a cena das beijoquices e deve ter contado em casa, o meu pai proibiu o "namorado" de entrar nos nossos campos. A minha mãe, muito simplesmente, disse que não gostava dele porque fumava, o que arrumou a questão. Ainda tentei "dar luta" durante uns meses, mas essa luta acabou aquando dum baile numa garagem de uns amigos, a que o meu pai não me deixou ir, mas a que o "namorado" foi e lá dançou com uma rapariga vizinha dele. Aí fui eu a acabar com o namoro. Nunca mais! Isso foi um alívio para o meu irmão, que ainda me chegou a dar uns cascudos por causa do namorado, tal era a perseguição que me fazia.

Foi com essa idade e da forma descrita que recebi o primeiro beijo e foi ele o meu primeiro namorado. E como o que custa é começar, a partir daí o que mais tinha eram pretendentes. Eram cartas, bilhetes, recados. Acho que me tornei mais ousada, menos tímida, depois dessa aventura. Mas namorar não era o meu forte. Detestava não acompanhar as minhas amigas para todo os lado e, claro que namorando isso não podia ser. Tinha de optar e a opção foi a liberdade, nada de namoros. Mas andava sempre em estado de paixão, ora por um rapaz que tinha conhecido no cinema, ora por um que tinha conhecido num baile de garagem. Eram paixões só minhas, eles nunca sabiam!

Com 17 anos, os meus pais levaram-nos pela primeira vez ao fogo do S. João. Conheci aí conheci um rapaz de uma freguesia um pouco distante. Pareceu-me muito interessante, vestia muito bem, era muito educado, bastante alto. Combinámos sair no dia seguinte. Durante o encontro ele pediu-me, oficialmente, namoro, e pela primeira vez na minha vida comecei verdadeiramente a namorar. Tinha a aprovação da minha mãe, o que para mim era um ponto negativo, pois sempre detestei fazer as coisas direitinhas. Achava que era fantástico e que tinha mais encanto se fizesse tudo no contra. Detestava que dissessem "muito bem, assim gosto!". "Quem tem de gostar sou eu", pensava eu, "e então se eles gostam, não gosto eu!".
Portei-me bastante mal com estee rapaz, acho que o fiz sofrer muito, e ele aturava-me tudo! Tinha de andar 10 Km a pé para se encontrar comigo, e eu era capaz de passar a tarde em grupo e não lhe prestar atenção nenhuma! Só quando a minha mãe chamava para entrar para casa, eu lhe dizia alguma coisa e era... "vou-me embora!". Coitado, aturou esta minha rebeldia durante uns 3 anos, até ter ido para a tropa. Essa partida foi um alívio para mim, mas aí portei-me de modo muito mais simpático, pois escrevi-me sempre com ele durante a o tempo que esteve em Angola.

terça-feira, novembro 15, 2005

O meu primeiro pretendente e a mudança...


Depois desse episódio anterior, penso que a minha irmã se apercebeu que eu estava apanhada pelo rapaz, a quem ela por acaso nem ligava nenhuma, pois ele não era o género dela.
Um dia eu e a minha irmã fomos à mercearia comprar coisas para a minha mãe. No caminho de regresso a casa, o filho de um amigo do meu pai abeirou-se de nós e, para meu espanto, não era com a minha irmã que ele queria falar mas sim comigo. Fiquei tão encabulada, tão vermelha e tão assustada, que ainda hoje me dá riso quando penso nessa situação. Ele dirigiu-se a mim e disse: "..."Queres namorar comigo? Tens uns olhos tão transparentes aos meus (!?) que os meus parecem ser teus e teus parecem ser meus." O meu peito pulava de vergonha, ai que me ia dando uma coisa! E logo a minha irmã a ouvir! Já sabia que ela ia contar em casa e todos se iam rir das palavras do rapaz. Só me apetecia correr, fugir ... e foi o que fiz. Desatei a correr e só parei ao lado da minha mãe, assustada. E não é que o rapaz também entrou?! Ele há cada um! Corri escadas acima e fechei-me no quarto.
Para a minha família foi um teatro pegado! Só a chegada do meu pai conseguiu pôr fim àquela situação, que eu achei ridícula e os meus irmãos se deliciaram, até a minha mãe se fartou de rir daquele pateta. Decididamente detestei o rapaz. Acho que ainda hoje não gosto dele pela vergonha que me fez passar.

Comecei a adorar a vida de solteirona(!). Com 16 anos não tinha ainda namorado e achava isso bom. Era uma maçada ter de sair sempre com a trela, gostava de ser livre!
Um dia combinámos ir ao cinema ver um filme que me apaixonou, e que mudou a minha maneira de pensar em relação aos rapazes. Foi "A Vida é Sempre Igual", de Júlio Iglésias. Ai como eu gostei daquele paraíso, como ele falava lindo para aquelas lindas mulheres, tudo era belo naquele filme.

Comecei a entrar na paranóia típica de adolescente: que era feia (eis-me a fazer promessas aos santos para não ser tão feia e começar a ficar bonita), que tinha espinhas, enfim! Chorava muito porque me achava feia. Nada para mim era importante pois não ia conseguir ser como aquelas belas mulheres, a quem o Júlio cantava musicas divinas! Ainda hoje tenho pena de mim e da angústia que isso me provocou... Mas como sou por natureza uma rapariga pronta para a luta lá consegui dar a volta. Sem o meu pai saber, resolvi tar o cabelo "à moda", deixei de usar tranças, e comecei a esticar o cabelo, porque na altura se usavam os cabelos muito lisos. Algumas vezes cheguei mesmo a passar o cabelo a ferro sem a minha mãe ver(!). Comecei a usar saias super curtas, e comecei a ficar uma gracinha. Acho que devia estar mesmo a ficar bonita, pois passaram a ser tantos os rapazes a querer disputar a minha atenção, que eu nem sabia o que fazer. Por essa altura não se usava telefonar, mas eram cartas, recados e bilhetes, por todo o lado. Era o centro das atenções de todos os rapazes!
Quando tinha 18 anos, mudámos de casa (e de freguesia). Achei que os pais não deviam ter feito isso, pois não pensaram nas raízes que tinhamos criadas. Foi aterrador ter de me separar dos amigos, adaptar-me a uma terra nova, gente diferente. Não gostei nada, sofri bastante e não me consegui adaptar. A minha mãe sabia que eu não gostava de morar ali, mas filho nessa altura tinha lá voz!!!

segunda-feira, outubro 31, 2005

Primeira paixão e primeiras desilusões


Os meus 16 anos

Aqui estou de novo para contar mais um pouquinho de mim, com algum atraso, de que peço desculpa.

Apesar dos contratempos que já fui descrevendo, sempre tive uma forte auto-estima. Isso levou a que me achasse interessante(!) e que no dia que eu quisesse um rapaz nem pela cabeça me passava a hipótese de ser rejeitada. Coisas de rapariga...
Comecei a olhar um dos rapazes de uma forma diferente da que via os outros, todas as vezes que ele lá ia a casa,eu tentava dar um ar mais sedutor a mim própria ia visitar as pinturas da minha mãe e lá clocava um pouco de póde arroz na cara.

Um dia houve um lanche na casa dos meus pais. Estavam lá muitas pessoas, os amigos dos meus pais, os filhos desses amigos. Depois de umas horas bem passadas em jogos e outras diversões para a nossa idade, a Mãe chamou para irmos lanchar. Quando estávamos à volta da mesa, o tal rapaz "estrela dos meus olhos" estava um pouco afastado, parecia que preferia conversar em vez de comer. Eu, menininha educada e cheia de atenções, preparei um pratinho com algumas das iguarias da mesa e fui entragar-lho... Ai que ainda hoje sinto a dor!!! Não é que ele pegou no que eu lhe dei e foi entregar o prato à minha irmã, todo cheio de ternura!? Eu vi no olho dele que ele gostava da minha irmã… Que desilusão! Fiquei "louca" de raiva e ciúmes…Sou e desde criança de decisões muitos rápidas e repentinas. Se o pensei de imediato o fiz: abeirei-me da minha irmã, tirei-lhe, o prato com uns olhos devoradores, coloquei-o na mesa e fugi para a cama.


Foi a minha primeira e grande desilusão. Fiquei na cama a chorar. Quando os meus amigos quiseram saber de mim e me localizaram na cama, muito rapidamente me desculpei com a milagrosa desculpa da "dôr de barriga". Dôr de cotovelo é que era!
Durante um tempo andei muito desgostosa e desiludida!


Nessa altura andava a dar uma radionovela, famosa, chamada "Simplesmente Maria". Ai como eu chorava a ouvir os episódios! Como recordo tudo! Havia o parvo do namorado da dita, que lhe fez um filho e não a quis! Era dose para uma rapariga cheia de sonhos. Como vibrava eu com o sucesso da Maria.. Essa novela marcou bastante uma fase da minha vida. Até a minha maneira de olhar os rapazes mudou a partir daí. Estava para mim a "Simplesmente Maria" como está para os jovens de agora a novela "Morangos com Açúcar".

sábado, outubro 15, 2005

Os meus negócios


Depois de termos o nosso clube do livro, que funcionava no celeiro da quinta dos meus pais, este começou a ser muito frequentado quer por amigos nossos quer pelos amigos da minha irmã, o que não achei muito justo. Eles tiravam-nos um pouco a privacidade e liam os livros que eram nossos, e entre todas estabelecemos que quem queria entrar tinha de pagar um bilhete que ficou a ser de 12,5 cêntimos. Alguns não voltaram lá, os "colas", mas muitos continuaram.

Depois fizemos alargar o negócio e vendíamos também castanhas assadas e tremoços. Era uma beleza: chegávamos a fazer por domingo 20 escudos e engrossavamos a assim a nossa biblioteca pois compravamos muito mais livros desde banda desenhada a romances. Tínhamos também revistas de Corin Tellado, Caprichos e a crónica Feminina.

Os meus irmãos foram cúscar ao meu pai que eu os obrigava a pagar e resultou daí uma tremenda confusão lá em casa pois aquilo não era só meu. Bem, mas o meu pai decidiu que isso ficava à minha conta, eu era quem sabia pois a ideia era minha e não deles. Ele convidou-os a seguir o mesmo rumo que eu, que inventassem alguma coisa, mas aquelas pestinhas não me davam sossego. Os mais pequenos, principalmente, ora jogavam à bola lá dentro e deitavam coisas ao chão, ora pregavam partidas aos meus amigos, que consistiam no seguinte: quando algum se levantava e voltava a sentar de novo, no momento do sentar tiravam o banco e aquilo era” malho” certo. Eram terríveis eu bem que tentava impor respeito, mas eram tantos, uns 5. Quem segura cinco crianças endiabradas?

Sempre fui super curiosa, e sempre detestei que não me deixassem ver e remexer em tudo. Ainda hoje sou assim e quem me proibir algo, sinto logo um calafrio e tenho de ultrapassar as regras, contrariando e obedecendo ao meu instinto, nem que me cause dissabores. Essa de menina obediente, que cumpre que faz tudo o que lhe mandam não esteve nunca nem está comigo. Assumo que sou rebelde.
Um dia a minha mãe comprou um pente de cabelo de senhora com um cabo atrás, e esteve com a irmã dela, minha tia, e com a minha irmã mais velha a fazer penteados. Teria eu 14 ou 15 anos . Eu disse: "Mãezinha mostre-me o pente" e ela respondeu: " Não, que o podes partir". Guardou-o e saiu. Pois, e tinha de ser logo comigo, isso. Fui procurar o bendito pente e logo por desgraça minha, mal o coloquei no cabelo para me pentear, não é que o raio do pente parte o cabo e fica em duas partes, pente para um lado e cabo para o outro! Mas pensam que me deixei apanhar tipo “morcona”? Na . Fui à cozinha e no fogão arranjei maneira de colar o pente. Fiz o trabalho tão bem feito que no outro dia a minha mãe foi para usar o pente e ele ficou logo com uma parte para cada lado, mas felizmente não desconfiou de mim. Ficou só zangada com a má qualidade do material. Ufa da que me safei! Era capaz de me dar umas palmaditas, ai acho bem que sim. Mas sabem que ela ainda hoje não sabe desta... e de muitas outras.

terça-feira, outubro 04, 2005

Eu e as minhas amigas



Casamento da irmã da minha mãe

Uns tempos depois da minha comunhão solene tivemos uma reunião na igreja com o padre da paróquia, nós os que tínhamos feito esse acto de fé. Primeiro foi para nos agradecer a forma como nos comportamos, outra foi para que recordássemos para toda a vida o que ali tínhamos prometido. A certa altura lá para o fim da reunião o padre perguntou: "Algum de vocês quer seguir a carreira da igreja? (meninos para padres e raparigas para freiras)". Dois rapazes foram para o seminário e eu levantei-me e disse: “Senhor Abade eu quero ir para freira”. Ficou contente o padre, pois eu era, e ainda sou, bastante dedicada ás coisas de Deus. Pronto, o padre tomou nota e no domingo a seguir falou isso na missa. Mas o que aconteceu foi que o meu pai não me deixou ir mais à catequese: na opinião dele era desonroso uma filha sua seguir a vida de freira. Foi pena pois teria sido uma boa “freira”.

Com uma certa mágua minha, eu era a mais franzina de todos os meus irmãos. Era magricela, ao contrário da minha irmã, que era linda. Uma rapariga morena com tudo em pleno desenvolvimento tinha a atenção dos rapazes, não que isso me importasse, mas não me sentia confortável com essa situação, nessa altura com os meus 14 anos, os rapazes chamavam-me "pele e osso" e não me ligavam grande importância.

Era muito popular e com grande facilidade de fazer amizades e ainda hoje assim sou. Sempre tive um feitio impulsivo, justa e honesta mas senhora do meu nariz, eu era sempre quem liderava o grupo de amigas que me seguiam por todo o lado. Tinhamos montes de projectos, e que "projectos". O que me dava mais prazer e adorava fazer era espionagem aos pares de namorados. Não era para ver o que faziam até porque começavamos a fazer barulho mal os avistavamos. A nossa intenção era descobri-los e começar a fazer javardíce por perto deles até os fazer ir embora. De quando em vez, e sem que eu tivesse prazer nisso, encontrava a minha irmã. Claro que contava à minha mãe e o resultado disso era levar umas estaladas da minha irmã. Claro que eu também dava mas ela dava mais. Eu era realmente uma pestinha. Acho que ainda sou, mas essa de os meus não se portarem bem não dava nem dá comigo. Outro dos nossos passa tempos favorito eram as caminhadas. Chegávamos a fazer 20 km por tarde umas vezes por campos e vales outras por Montanhas e era por esses lados que encontrávamos os namorados.

Como tinha muitas amigas e estavam onde eu estivesse, fora das horas das aulas delas, porque elas tinham continuado os estudos.
Um dia em grupo decidimos que tínhamos de mandar embora uma delas porque nos causava muitos problemas de cúsquice e se o pensamos logo o fizemos. Ela não aceitou a bem a nossa decisão e então fomos levá-la a casa porque não fosse ela espiar-nos. No dia seguinte quando eu andava a regar o jardim ela chamou-me e eu fui ter com ela. Era para me pedir para a deixar andar no grupo mesmo desagradando ás outras-eu não podia fazer isso- ela vai ao bolso, tira uma caixa e entrega-me. Eram uns brincos em ouro e fugiu de seguida. Eu fiquei assustada e fui entregar os brincos ao meu pai que por sua vez os foi levar à mãe dela, a qual confessou ao meu pai que não conhecia aqueles brincos ”mas que ficavam lá”. Eu não contei ás outras a conselho do meu pai.

Eu tinha as minhas tarefas diárias mas fazia uso da mão-de-obra ao meu alcance, e quando o pessoal chegava à minha casa, todas me ajudavam e assim eu concluía o trabalho primeiro que os meus irmãos. Acho que nessa altura até me tornei um pouco preguiçosa o que desagradava aos meus pais que passaram a marcar dias para os meus convívios, de preferência quando eu não tinha nada para fazer, ou então negociávamos eu e os meus irmãos que elas só entravam em casa na condição de ajudar a todos, e assim acontecia.

Com 14 anos, por vésperas da Páscoa, a minha mãe comprava-nos sempre roupas e sapatos novos, eu inquiri a minha mãe no sentido de que eu só aceitava a roupa escolhida por mim. Tinha que ser uma saia travadinha e uns sapatos de salto alto que ao andar faziam um bater tipo “tric tric”. Ela deu-mos mas fez questão de me dizer "Vai te ficar mal pois vais parecer um pau de virar tripas". Quero lá saber- pensei eu - mas estou na moda. Adorei os tais sapatos só que a quase não os conseguia calçar pois não conseguia correr com eles sem dar uma queda.

Eu e as minhas amigas tínhamos um "clube do livro". Um dos primeiros livros que li foi a "Vida de Sofia". Começamos todas por comprar um livro que depois fazíamos rodar entre nós. Todas as semanas deitávamos dinheiro numa caixa e ao fim de um tempo uma delas encarregava-se da compra do livro. Juntamos assim dúzias de livros que era a nossa diversão de Inverno.

quarta-feira, setembro 21, 2005

Felicidade, rebeldia e outras estórias


A minha comunhão solene

Depois de acabada a escola, ocorrida a morte da minha avó, senti que tinha, tanto quanto possível, que assumir o controlo da minha vida. Estudar, era tanto desejado como impossível, dada a oposição do meu pai. De repente, passei a bábá dos meus irmãos mais novos, o que assumi com resignação.
Só saía de casa para ir à catequese. Aos 13 anos fiz a comunhão solene. Era uma menina muito atenta na igreja e, por isso, desempenhei várias funções durante a cerimónia da comunhão. Cantei, sozinha, ao som do órgão e ao que parece, com o agrado de quem ouviu. Houve mesmo quem dissesse que a foi de fazer chorar os mais sensíveis...
A cerimónia foi linda, ainda hoje a recordo com saudade. Ainda assim, duas coisas me deixaram triste: a ausência da minha madrinha (que era a minha avó, já falecida, como vos contei) e a ausência do meu pai que se tinha zangado com a minha mãe e por isso não foi á igreja, acabou por não assistir à comunhão,foi só a minha mãe. Apesar disso, a cerimónia foi linda e muito marcante para mim.
Chegada a casa, já depois de terminada a cerimónia, o meu irmão, o primogénito, decidiu meter-se comigo, já nem me lembro bem porquê. Apesar de limitada nos movimentos pelo vestido comprido (era um vestido tipo de noiva, com véu e tudo), não hesitei: atirei-me a ele e foi uma bela sessão de pancadaria!! Como poderão concluir, sujei o vestido todo e levei uns tabefes do meu pai, mas foi bem feito para mim. Só mesmo eu para fazer aquilo, no dia da comunhão e com o vestido por tirar! Muito tabefe levei eu, devido a este feitio ríspido!

Sempre fui muito curiosa, por vezes ao extremo. Ainda hoje assim sou, e boas razões teria para ter mudado, porque me dei muitas vezes mal com tanta curiosidade. Na casa dos meus pais criavam-se todo o tipo de animais domésticos. Os que mais me fascinavam eram os pintainhos, que eu adorava ver. Achava-os a coisa mais linda do mundo. Um dia, como de costume, a minha mãe foi dar a volta aos ovos das galinhas no choco, para ver se haviam alguns "picados", sinal que os pintainhos estariam para nascer. A minha mãe achou que estavam mesmo quase a picar, e que, à noitinha, já deveriam estar picados. Isso ficou-me na cabeça... a curiosidade despertou. Assim que a minha mãe saiu fui-me ao ninho, tirei a galinha e descasquei os ovos, para que os pintainhos nascessem mais rapidamente. No dia seguinte, quando a minha mãe lá foi, deparou com o triste espectáculo de 18 ovos descascados e 18 pintos todos mortos... Foi fácil para minha mãe adivinhar a culpada e lá levei mais uns bons tabefes.

A minha vontade de estar no contra, de seguir sempre as minhas regras, não as que me impunham (excepto no caso dos pais, claro, aí tinha que ser, mas não deixava, mesmo assim, de refilar) levou a alguns episódios engraçados. Todos tínhamos a responsabilidade de fazer determinados trabalhos em casa. No Inverno, sendo menor o trabalho nos campos, algumas das criadas ajudavam nesses trabalhos, mas no Verão tocava-nos a nós fazê-lo. Um dia a minha mãe mandou-me lavar umas escadas de madeira. Claro que eu sabia como as deveria lavar, tantas vezes tinha visto as criadas e a minha mãe a fazê-lo. Quando me aprestava para começar a lavar as escadas, chegou lá a casa a mãe da minha mãe, que tinha a mania de me dar ordens e procurar obrigar-me a fazer os trabalhos ao gosto dela. Eu detestava isso! No tal dia da lavagem das escadas, lá teve ela a infeliz ideia de me dizer como eu devia fazer. "Começas aqui de cima e vais certinha até lá abaixo!". Apesar do óbvio bom senso de tais indicações, a veleidade de tentar mandar em mim, fez com que me fosse dando uma coisa. Tinha de fazer alguma coisa, para a contrariar, pensei! E fiz! Decidi lavar as escadas de baixo para cima, porque em mim ninguém mandava! Ainda tive medo que o meu pai chegasse a meio e lá viessem mais uns tabefes, mas isso não aconteceu e lá consegui lavar aí uns 20 degraus de baixo para cima!

Zangava-me muitas vezes com os meus irmãos e, não sei porquê, até os mais pequenos andavam atrás de mim para me apanhar e entregar-me, como troféu, aos mais velhos. Era uma batalha desigual, eu contra 7 irmãos, mas nem isso me fazia desistir. Se não os conseguia enfrentar, andava fugida. Muitas vezes só podia entrar em casa escoltada pelo meu pai, pois com a minha mãe eles davam-me à mesma. Mas nem isso me fazia dobrar, ou eu vencia a minha, ou havia guerra contra todos!
Um dia o meu irmão mais velho zangou-se comigo e deitou-me as bonecas todas fora, o palerma! Que estrago, que confusão houve lá em casa! Mas vinguei-me com lucro: peguei no carrinho de rolamentos que ele tinha e deitei-o a um poço. Ainda hoje não sabe ele onde foi parar o carrinho! Tinha que ser olho por olho, dente por dente!

Em casa dos meus pais rezava-se o terço, à noite, à volta da lareira, no Inverno. Todos estavam presentes, até os criados. Na reza do terço havia um momento em que todos tínhamos de nos levantar, e depois voltar a sentar-nos. A coisa era feita de forma tão rápida que, por vezes, caíamos todos ao chão, incluindo a minha mãe que ia de arrasto! Ainda hoje me rio disso com gosto. Éramos aí uns 10 no meio da cozinha, estendidos pelo chão fora. A minha mãe nem sabia se havia de se rir, se de nos bater a todos, mas quase sempre acabávamos à gargalhada.

sexta-feira, setembro 16, 2005

Uma nova fase: a autonomia conquistada!




No ano seguinte, de novo na 4ª classe. Apesar de ter estado 3 meses internada no hospital, de Fevereiro a Abril, e ter estado doente praticamente todo o ano, fiz o exame da 4ª classe. Passei com distinção, fui a melhor aluna da escola onde fiz o meu exame, que foi realizado por alunos de 10 freguesias de Braga. Recordo-me tão bem da prova oral! A prova incidiu sobre o rei D. Dinis e também sobre os caminhos de ferro, temas escolhidos por mim. Quando os escolhi, em particular o D. Dinis, lembro-me da troca de olhares entre as professoras, e de me terem inquirido sobre a razão da escolha. Da resposta também me recordo: sempre achei que sobre D. Dinis havia muito para contar e gostava muito de tudo o que com ele se relacionava.

No início desse ano lectivo, alguns colegas começaram a ter explicações com a professora para seguir os estudos, pois tinha de se fazer o exame de admissão ao liceu. Não fiz o pedido para ter essa preparação. Por não o ter feito, a professora perguntou-me se eu não iria continuar a estudar. Tive de lhe dizer que não sabia, uma vez que o meu pai não tinha dito nada. A professora chamou o meu pai à escola, para lhe dizer que achava que eu era uma criança muito inteligente, a quem não se deveria cortar as asas, pelo que a melhor decisão deveria ser a do prosseguimento dos estudos. A resposta do meu pai foi a esperada, infelizmente tão frequente, para tanta gente, à altura: "tenho muitos filhos, e para ela ir estudar teria de os deixar ir a todos. Ela tem os irmãos para tomar conta, é isso que vai fazer!".
Para mim a desilusão, mais uma (!), foi enorme! Mas a professora, apesar da decisão anunciada do meu pai, deu-me as explicações à mesma. Infelizmente, acabado o ano, o pré-anúncio confirmou-se: o meu pai não deixou que me matriculasse no liceu. Recordo-me da frustração e revolta que senti, mas fiz uma promessa a mim própria - voltaria a estudar quando atingisse a maioridade. Promessa que viria a cumprir!

Esta situação, associada à debilidade física já descrita, pode ter sido a causa de alguns problemas de saúde que até hoje persistem, e de que nenhum dos vários médicos consultados descobriu a causa. Um dos mais desagradáveis é o que acontece em momentos de grande stress: perco a visão por momentos, quando a recupero tenho amnésia (que acaba por ser passageira), e subsistem umas dores de cabeça fortíssimas, que ficam o resto do dia.

Aos meus 14 anos morreu a minha amada Avózinha, a minha estrela, a minha protectora. Partiu, vítima de um ataque cardíaco. Depois disso senti-me muito sózinha no mundo. Ainda hoje sinto muito falta dela, ainda a chamo em momentos de dificuldade e desespero! Esta morte gerou em mim uma mudança completa! Passei a contar apenas comigo, passei a arranjar um espaço na minha mente só meu, onde ninguém entrava. Apesar de ouvir o que me diziam e estar atenta aos conselhos dados e cumprir sempre os meus deveres, as decisões sobre a minha vida pessoal passei a tomá-las eu. Até hoje permaneço assim, sou eu quem decide sobre a minha vida, não admito interferências venham de onde vierem. Posso ouvir o que têm para me dizer, e posso até aceitar as opiniões e conselhos, mas só depois de tudo filtrado e ajustado áquilo que penso que é o melhor. Às vezes, até exagero e acabo a não fazer o que é mais correcto, só para me assegurar a mim própria de que não são os outros que decidem a minha vida!

quarta-feira, setembro 07, 2005

O internamento hospitalar e a maldade de uma professora


A minha passagem pelo piano

Nessa altura achava que a minha mãe e irmãos não gostavam de mim,era essa a mensagem que me passavam as tias, essa é uma ideia que toda a vida me tem perseguido. Talvez esteja errada, talvez tenha sido eu quem sempre se afastou deles, e os rejeitei. Quando estava com a minha avó, eu era o centro das atenções. Em casa dos meus pais deixei de ser. Eramos muitos, e eu era das mais velhas.

Aos 10 anos comecei a definhar. Aos 11 fiquei muito doente, e com 12 fui internada no hospital. Estive internada mais ou menos 3 meses. Deixei de comer por completo, não conseguia andar e para me fazer a cama tinham de me pegar ao colo. Passei dias dos quais de nada me lembro. Como que por milagre, numa visita da minha avó, ela levou-me uma peça de coelho, e não é que eu comi?!

Com 12 anos pesava 22 kilos. Todos pensavam que eu ia morrer. Chegaram a tirar a minha mãe em braços do meu quarto do hospital. Tinha dificuldade em abrir os olhos, em virar a cabeça. Só dormia e ouvia, às vezes, as conversas em meu redor. Adormecia de repente, acordava por breves minutos.
Finalmente acabaram por me detectar um tumor que, depois de analisado, se concluiu que era benigno. Removeram-no, comecei a melhorar, e pude abandonar o hospital. Chegada a casa, comecei a aceitar um pouco tudo e todos com mais normalidade. Acho que foi preciso ter estado doente para sentir carinho.

Na quarta classe não passei de ano, não por não ser boa aluna, mas porque a professora era muito má, batia muito em todos. Não me posso queixar muito da "porrada", porque não me tocou lá muito mas, na mesma sala, um dos meus irmãos, que andava na segunda classe ( as salas tinham sempre 2 anos escolares) "levava" bastante. Isso fazia com que eu chorasse muito e que batesse também nas outras raparigas. Fazia coisas terríveis: dava-lhes grandes estaladas, arrancava-lhe os brincos ao puxão, furava-lhes a orelha com as unhas. Eu era terrível, um pavor!

O meu irmão andava sempre com um casacão vestido, que nunca tirava, mesmo às refeições. Um dia, o meu pai zangado, não sei porquê, obrigou-o a tirar o casaco. Quando o tirou, o meu pai reparou ele tinha os braços e costas todas pretas. Primeiro o meu pai pensou que era o meu irmão que precisva de tomar banho. Levou-o ao lavatório e obrigou-o a lavar-se. No entanto, as marcas não saiam. Num grande pranto o meu irmão contou ao meu pai que era a professora que lhe batia. O meu pai perguntou-me e eu confirmei. Perguntou também se eu também tinha o mesmo tratamento, ao que respondi negativamente.
O meu pai foi conversar com os pais de outras crianças e resolveram ir à escola, reclamar com a professora, por bater tanto nas crianças. O resultado foi a professora ter mandado todos aqueles cujos pais tinham participado na "reclamação" para as filas traseiras, e nunca mais ter querido saber de nós. Não corrigia os trabalhos, abandonou-nos por completo. Isto aconteceu por volta de Novembro.
Ir às aulas passou a ser o mesmo que não ir. Nos dias de sol, mesmo de muito sol, a professora passou a deixar aberta a persiana que impedia o sol de dar nas últimas filas. Dizia que o sol nos fazia muito bem. Se algum de nós, antes de ela entrar, a baixasse, ela subia-a de novo, e dizia-nos que, se quisessemos sombra, poderíamos bem esperar pelo fim da aula. Era terrível estar nessas aulas.

Com todo este cenário, acabei por perder o ano. Não foi por não saber, como podem depreender desta narrativa, mas por pura maldade da professora.

quarta-feira, agosto 31, 2005

A minha entrada para a escola


A minha Mãe com a idade de 18 anos


No ano da minha chegada à casa dos meus pais, faleceu um dos meus irmãos, o Francisco, que tinha 2 anos, como resultado de um surto de enterite que houve nesse ano. Todos choraram e lembro os gritos da minha mãe e da minha irmã mais velha. Vi tudo o que se passou e vi o meu irmão a morrer, ninguém se apercebendo que eu estava ao lado da cama. Quando me viram e me retiraram de lá já a minha mãe gritava muito.
Comecei a ter diurese nocturna e emagreci muito. Cheguei a subir para cima de um muro que existia lá e que dividia os terrenos do meu pai dos dos dos vizinhos, e ficar lá horas sem conta até ser encontrada noite dentro pelo barulho do choro. Nunca sabia se me tinham andado a procurar, tal era o meu desinteresse.

No ano seguinte fui para a escola, onde fui sempre uma excelente aluna. Em Abril desse ano passaram-me para a segunda classe por eu aprender muito rapidamente, e os outros meninos não me conseguirem acompanhar. Quando acabavam as aulas se não era a minha irmã a levar-me pela mão, eu ficava sem rumo e não ia para casa. Qualquer sítio servia menos a casa dos meus pais. Ficava em qualquer lado. Lembro-me de um dia a minha irmã estar doente e não ter ido para a escola e eu ter seguido um rumo diferente do que devia seguir, depois das aulas. Fui encontrada, noite dentro, a chorar, sentada no chão num canto qualquer.

Um dia em que estavam na escola a escolher crianças muito necessitadas para ir comer a sopa dos pobres, dei o meu nome e fui também, sem avisar nem nada. Quando cheguei à noite a casa dei com a minha mãe a chorar, e a dizer "dei uma filha para o mundo para andar a comer a sopa dos pobres". A verdade é que continuei a ir durante o ano todo, e bem boa era a sopa! Também davam uma colher de óleo de fígado de bacalhau e todas as outras crianças choravam, não a queriam, mas eu tomava sem problemas. Os meus companheiros de refeição eram crianças e mendigos. Podia comer-se toda a sopa que se quisesse, mas pão é que era só uma fatia.

quarta-feira, agosto 24, 2005

A angústia começou


A minha sala de aula da 2a. classe. Sou a menina sentada junto à mesa da freira.

Depois de fechada a porta da casa dos meus pais, o pânico deu lugar à angústia. Ali fiquei, sentindo-me uma estranha, um empecilho. Ocupava um lugar, um lugar mais à mesa e uma cama ocupada. Existiam já 5 irmãos que eu praticamente não conhecia. Comecei por ter pesadelos nocturnos, via fantasmas na noite, sofria em silêncio.

Eu tinha 7 anos, não estava habituada a ter tarefas, passei a ter. Fazia-o porque me mandavam e porque tinha que ser, tudo sem reclamação ou entusiasmo. Era, nesse tempo, alguém que não sabia porque estava ali, o que fazia ali. Estava habituada aos beijos, muitos, desde os criados aos da família, mas lá na casa dos meus pais não existiam beijos, excepto aqueles que iniciávamos. Como me sentia uma estranha não dava beijos a ninguém.

Vivia lá uma senhora muito rica, mas idosa, que me dava bastante atenção. Talvez fosse eu quem se aproximava dela, acho hoje que como tentativa de a imaginar minha avó. Contava-me muitas estórias, que ainda hoje conto à minha sobrinha.

Entrei para a escola com 8 anos, pois só fazia anos em Novembro e como só podia entrar com 7 anos feitos e as aulas começavam em Outubro, não me deixaram entrar antes. Fiquei um ano sem fazer nada que não fosse estar em casa. Uma das minhas distrações favoritas era estar sentada no chão a apreciar o movimento das formiguinhas. Confesso que isso ainda hoje me fascina.

Durante muito tempo não vi a minha avó, porque ela não foi a casa dos meus pais, ainda hoje não sei porquê. Nunca perguntei. No dia em que a voltei a ver, afastei-me dela e rejeitei-a. Só passado muito tempo é que a aceitei de novo e me aproximei dela.

quarta-feira, agosto 17, 2005

A dor da separação




Olá, cá estou para contar mais um pouquinho sobre mim.
A partir dos meus 6 anitos as coisas começaram a complicar para mim embora eu nada percebesse. Tinha a minha avó e o resto era paisagem. Mas não foi assim. Eu vivia com a minha avó e duas tias que eu adorava e que muito me mimavam e vivia cheia de carinho, afectos e protecção. A partir dessa idade as minhas tias casaram, uma delas a que eu mais amava, foi bastante doloroso deixar de a ter presente. Ela era muito bonita e muito boa para mim. A outra também mas eu recordo mais esta. Ela casou, foi para outra casa, deixando a de minha avó. Dentro da minha cabecinha infantil não percebi porque a minha tia se foi embora e eu e a minha avó tínhamos de ficar, mas foi o que aconteceu.
Depois foi desastroso para mim e para a minha protectora, pois a porra de uma tia, de pêlos nas pernas e barba como um homem, foi para lá para casa. O raio da mulher ( que Deus me perdoe) não nos dava paz pois passou a dar ordens á minha avó: Mãezinha faça isto Mãezinha faça aquilo, não nos dava tréguas e roubava-me a minha avó. Passei a só ter o exclusivo de noite. Na hora de dormir, aí sim, ela era minha.
Porque não nos vamos embora para a casa da tia perguntava eu à avó! O pior é que contaram ao meu pai o que se estava a passar, e logo deu bronca da pesada.
O pai foi ter com a avó para requisitar o legado dele, a filha, mas eu não queria ir com ele. Chorei muito muito, abraçada ao pescoço da minha querida e amada avó, e não fui. Ele não me levou, fiquei contente mas amedrontada. Pedia insistentemente à avó para irmos para a casa da tia pois eu temia a tia das pernas peludas e temia a decisão do meu pai.
Um dia, quando me levantei, vi a minha roupa numa mala. Perguntei-Porque está isto aqui vozinha?- ao que ela de imediato me respondeu: "Vais para a casa da tia .... Depois vou eu". Pois bem, não fiquei eufórica mas tínhamos de sair dali pois aquilo não corria bem era um martírio para a avó.
Saí pelo inicio da tarde, as duas sem palavras de mãos dadas. Eu teria 7 anos, só que alguma coisa não estava a correr bem pois o caminho não estava a ser o mesmo! Mas foi-me dito que por ali era mais perto.
Quando entramos numa rua que eu reconheci como sendo a Rua onde os meus pais e irmãos moravam, deu-se o caos eu gritei, supliquei, caí, abracei-me ao pescoço dela e fiz todas as pessoas virem à janela pelos meus gritos de dor.
Para a minha avó, uma senhora com os seus 65 anos, devia ter sido má esta situação, não sei. Muitos anos passados ainda hoje oiço e sinto os meus gritos e a minha dor... Ajudada por pessoas na rua, lá fui levada à força para a casa dos meus pais e irmãos onde me sentia uma estranha.

terça-feira, julho 26, 2005

Sózinha com a minha avó - a minha heroína


2 aninhos e meio

Aos meus 3 anos os meus pais foram acampar para outras bandas. Claro, eu, menina da avó, fiquei com ela. Isso é que era bom ir com eles. Já existiam mais um irmão, e logo rapaz, que a minha mãe adorava. Aquele "intruso", que me veio tirar todo o conforto de menininha mimadinha! Passei logo a ser grande quando ele nasceu, e lá se foi o exclusivo de bebé. Assim sendo, melhor ficar no conforto e consolo da minha amada avó. E fiquei.
Ai, como recordo aquele carinho a que fui exposta, ai que saudades sinto daquela querida velhinha, daquele tesouro do meu coração. Dormia enrolada nela, vivia agarrada a ela, era o meu grande e único amor. Como eu amava a minha avó Rosinha! Passados muitos e muitos anos desde que ela partiu e ainda sinto o rosto dela encostado ao meu!
Sozinha com a minha avó, aconteceram coisas terríveis. Um dia, não sei porquê, peguei numa lanterna a petróleo, e fui chamar a minha avó. Sei lá como, virei a lanterna, o petróleo caiu sobre a minha roupa e acabou por se incendiar. Fiquei com a roupa a arder, mas a minha avó lá conseguiu apagar as chamas que, felizmente, não tiveram consequências muito graves.
Numa outra vez, estava com ela junto de um tanque de água. A minha avó, ocupada com as suas tarefas, descuidou-se um pouco, e eu, menina traquina, caí ao tanque. Lá teve ela de me salvar de novo, tirando-me do tanque com um ancinho. Nessa altura teria os meus 4 aninhos, mas lembro-me bem de tudo isto.
Um outro dia, outro salvamento. Brincava eu com a filha de um médico muito famoso, e a peste da rapariga (digo eu agora) tinha uma galinha em celulóide que, de cada vez que ela a agachava, punha um ovo. A maluca acabou por se lembrar de me tentar pôr a fazer como a galinha. Desatou a empurrar-me, para que me agachasse e, uma vez agachada, puxava-me o cabelo, a ver se punha o ovo. Gritei tão alto pela minha avó, que ela invadiu os aposentos do médico, pegou-me no colo e disse à pestinha: "Ora menina, vá fazer isso com a sua mamã!". Lá fui salva, mais uma vez, pelos grandes braços da minha heroína. Teria, então, os meus 5 anos.
Beijos, depois conto mais.

quarta-feira, julho 20, 2005

O nascimento e a minha primeira decisão


Eu com 3 meses no colinho da minha tia

Pois continuando a minha saga, lá para o dia 7 de Novembro entendi que mais não queria estar ali fechada, e acreditem que sou mesmo assim, fiz barulho e pelas 4 da madrugada, lá nasci. Eu sou assim uma rapariga despachada. Berro daqui, berro dali, meteram-me num grande alguidar de água (foi a minha amada avózinha quem fez isso, senão ;)). A minha mãe lá ficou de cama uns dias. Pudera...eu era pró grandita (5,3 Kg e 53 cms) e ela levou pelos menos uma duziazita de pontos dados pela habilidosa mulher que me ajudou a nascer. E pronto, aqui caiu esta preciosidade.
Eu devia ser uma bébé linda. Conta a minha mãe que quando saia comigo lhe chegaram a dizer que eu n/ devia ser filha dela, tão bonita que era (isto há cada marmanjona). A minha mãe também era bem bonita, embora eu seja da parecença do meu pai. Ainda assim, já viram se isto se diz?! Ai se eu encontro a matrafona que disse isso, tá feita ao bife comigo.
Com 3 meses era uma doçura de menina. Mal nasci, comecei por impor as minhas regras, que isto de os outros darem ordens, não foi, nem é para mim. Calma aí, sou sempre eu quem decide, e ficou logo estipulado que não queria essa mariquice de mamar na mãe ou na chupeta.

terça-feira, julho 19, 2005

Primeiro

Os meus Cotas, lá pelo mês de Março ora pois devem ter tido frio e dormiram juntos como era seu habito só que dessa vez fez falta mais qualquer coisa, quem sabe um mimo e lá vai beijo, o meu pai que não era homem de ficar pelos afectos e pronto, deve ter sido assim mais ou menos que eles me fizeram ao que oiço dizer estava um dia de frio. Ora eu logo desde as primeiras horas que fui uma rapariga toda vivida, detestava apertos, ou que a minha mãe dormisse sem que eu tivesse sono ou que comece o que eu não queria logo dei luta e fiz-lhe a vida um martírio, segundo ela conta. Bem beijinhos amanhã falo mais