sábado, outubro 15, 2005

Os meus negócios


Depois de termos o nosso clube do livro, que funcionava no celeiro da quinta dos meus pais, este começou a ser muito frequentado quer por amigos nossos quer pelos amigos da minha irmã, o que não achei muito justo. Eles tiravam-nos um pouco a privacidade e liam os livros que eram nossos, e entre todas estabelecemos que quem queria entrar tinha de pagar um bilhete que ficou a ser de 12,5 cêntimos. Alguns não voltaram lá, os "colas", mas muitos continuaram.

Depois fizemos alargar o negócio e vendíamos também castanhas assadas e tremoços. Era uma beleza: chegávamos a fazer por domingo 20 escudos e engrossavamos a assim a nossa biblioteca pois compravamos muito mais livros desde banda desenhada a romances. Tínhamos também revistas de Corin Tellado, Caprichos e a crónica Feminina.

Os meus irmãos foram cúscar ao meu pai que eu os obrigava a pagar e resultou daí uma tremenda confusão lá em casa pois aquilo não era só meu. Bem, mas o meu pai decidiu que isso ficava à minha conta, eu era quem sabia pois a ideia era minha e não deles. Ele convidou-os a seguir o mesmo rumo que eu, que inventassem alguma coisa, mas aquelas pestinhas não me davam sossego. Os mais pequenos, principalmente, ora jogavam à bola lá dentro e deitavam coisas ao chão, ora pregavam partidas aos meus amigos, que consistiam no seguinte: quando algum se levantava e voltava a sentar de novo, no momento do sentar tiravam o banco e aquilo era” malho” certo. Eram terríveis eu bem que tentava impor respeito, mas eram tantos, uns 5. Quem segura cinco crianças endiabradas?

Sempre fui super curiosa, e sempre detestei que não me deixassem ver e remexer em tudo. Ainda hoje sou assim e quem me proibir algo, sinto logo um calafrio e tenho de ultrapassar as regras, contrariando e obedecendo ao meu instinto, nem que me cause dissabores. Essa de menina obediente, que cumpre que faz tudo o que lhe mandam não esteve nunca nem está comigo. Assumo que sou rebelde.
Um dia a minha mãe comprou um pente de cabelo de senhora com um cabo atrás, e esteve com a irmã dela, minha tia, e com a minha irmã mais velha a fazer penteados. Teria eu 14 ou 15 anos . Eu disse: "Mãezinha mostre-me o pente" e ela respondeu: " Não, que o podes partir". Guardou-o e saiu. Pois, e tinha de ser logo comigo, isso. Fui procurar o bendito pente e logo por desgraça minha, mal o coloquei no cabelo para me pentear, não é que o raio do pente parte o cabo e fica em duas partes, pente para um lado e cabo para o outro! Mas pensam que me deixei apanhar tipo “morcona”? Na . Fui à cozinha e no fogão arranjei maneira de colar o pente. Fiz o trabalho tão bem feito que no outro dia a minha mãe foi para usar o pente e ele ficou logo com uma parte para cada lado, mas felizmente não desconfiou de mim. Ficou só zangada com a má qualidade do material. Ufa da que me safei! Era capaz de me dar umas palmaditas, ai acho bem que sim. Mas sabem que ela ainda hoje não sabe desta... e de muitas outras.