terça-feira, outubro 04, 2005

Eu e as minhas amigas



Casamento da irmã da minha mãe

Uns tempos depois da minha comunhão solene tivemos uma reunião na igreja com o padre da paróquia, nós os que tínhamos feito esse acto de fé. Primeiro foi para nos agradecer a forma como nos comportamos, outra foi para que recordássemos para toda a vida o que ali tínhamos prometido. A certa altura lá para o fim da reunião o padre perguntou: "Algum de vocês quer seguir a carreira da igreja? (meninos para padres e raparigas para freiras)". Dois rapazes foram para o seminário e eu levantei-me e disse: “Senhor Abade eu quero ir para freira”. Ficou contente o padre, pois eu era, e ainda sou, bastante dedicada ás coisas de Deus. Pronto, o padre tomou nota e no domingo a seguir falou isso na missa. Mas o que aconteceu foi que o meu pai não me deixou ir mais à catequese: na opinião dele era desonroso uma filha sua seguir a vida de freira. Foi pena pois teria sido uma boa “freira”.

Com uma certa mágua minha, eu era a mais franzina de todos os meus irmãos. Era magricela, ao contrário da minha irmã, que era linda. Uma rapariga morena com tudo em pleno desenvolvimento tinha a atenção dos rapazes, não que isso me importasse, mas não me sentia confortável com essa situação, nessa altura com os meus 14 anos, os rapazes chamavam-me "pele e osso" e não me ligavam grande importância.

Era muito popular e com grande facilidade de fazer amizades e ainda hoje assim sou. Sempre tive um feitio impulsivo, justa e honesta mas senhora do meu nariz, eu era sempre quem liderava o grupo de amigas que me seguiam por todo o lado. Tinhamos montes de projectos, e que "projectos". O que me dava mais prazer e adorava fazer era espionagem aos pares de namorados. Não era para ver o que faziam até porque começavamos a fazer barulho mal os avistavamos. A nossa intenção era descobri-los e começar a fazer javardíce por perto deles até os fazer ir embora. De quando em vez, e sem que eu tivesse prazer nisso, encontrava a minha irmã. Claro que contava à minha mãe e o resultado disso era levar umas estaladas da minha irmã. Claro que eu também dava mas ela dava mais. Eu era realmente uma pestinha. Acho que ainda sou, mas essa de os meus não se portarem bem não dava nem dá comigo. Outro dos nossos passa tempos favorito eram as caminhadas. Chegávamos a fazer 20 km por tarde umas vezes por campos e vales outras por Montanhas e era por esses lados que encontrávamos os namorados.

Como tinha muitas amigas e estavam onde eu estivesse, fora das horas das aulas delas, porque elas tinham continuado os estudos.
Um dia em grupo decidimos que tínhamos de mandar embora uma delas porque nos causava muitos problemas de cúsquice e se o pensamos logo o fizemos. Ela não aceitou a bem a nossa decisão e então fomos levá-la a casa porque não fosse ela espiar-nos. No dia seguinte quando eu andava a regar o jardim ela chamou-me e eu fui ter com ela. Era para me pedir para a deixar andar no grupo mesmo desagradando ás outras-eu não podia fazer isso- ela vai ao bolso, tira uma caixa e entrega-me. Eram uns brincos em ouro e fugiu de seguida. Eu fiquei assustada e fui entregar os brincos ao meu pai que por sua vez os foi levar à mãe dela, a qual confessou ao meu pai que não conhecia aqueles brincos ”mas que ficavam lá”. Eu não contei ás outras a conselho do meu pai.

Eu tinha as minhas tarefas diárias mas fazia uso da mão-de-obra ao meu alcance, e quando o pessoal chegava à minha casa, todas me ajudavam e assim eu concluía o trabalho primeiro que os meus irmãos. Acho que nessa altura até me tornei um pouco preguiçosa o que desagradava aos meus pais que passaram a marcar dias para os meus convívios, de preferência quando eu não tinha nada para fazer, ou então negociávamos eu e os meus irmãos que elas só entravam em casa na condição de ajudar a todos, e assim acontecia.

Com 14 anos, por vésperas da Páscoa, a minha mãe comprava-nos sempre roupas e sapatos novos, eu inquiri a minha mãe no sentido de que eu só aceitava a roupa escolhida por mim. Tinha que ser uma saia travadinha e uns sapatos de salto alto que ao andar faziam um bater tipo “tric tric”. Ela deu-mos mas fez questão de me dizer "Vai te ficar mal pois vais parecer um pau de virar tripas". Quero lá saber- pensei eu - mas estou na moda. Adorei os tais sapatos só que a quase não os conseguia calçar pois não conseguia correr com eles sem dar uma queda.

Eu e as minhas amigas tínhamos um "clube do livro". Um dos primeiros livros que li foi a "Vida de Sofia". Começamos todas por comprar um livro que depois fazíamos rodar entre nós. Todas as semanas deitávamos dinheiro numa caixa e ao fim de um tempo uma delas encarregava-se da compra do livro. Juntamos assim dúzias de livros que era a nossa diversão de Inverno.